Bom dia.
Me chamo Ana Luiza, tenho 32 anos, sou casada há 13 anos e mãe de duas crianças maravilhosas.
Sou nascida em família predominantemente católica, porém desde muito nova tive contato com as religiões de matriz africana.
Fui batizada na igreja católica, fiz minha primeira comunhão e, posteriormente fui crismada também. Fui catequista e atuante nas atividades da igreja durante muito tempo, mas sempre sentia que faltava algo que me completasse.
Meu pai era frequentador e iniciado tanto na umbanda quanto no candomblé, tendo optado posteriormente por seguir a umbanda. Filho de Ogum e Xangô, meu pai era um homem de poucas palavras, mas muito preciso. Não mostrava muito seus sentimentos e tinha um coração maior que tudo.
Desde nova via as entidades do meu pai trabalhando. O preto velho, o Exu, o erê... Tinha um enorme respeito por todos e ficava fascinada a cada incorporação, a cada ensinamento. No popular, eu cambonava as entidades do meu pai e, a cada vez recebia um ensinamento diferente.
Ali eu me sentia completa, feliz, inteira! Além disso meu pai também estudava muito a doutrina kardecista. Foi através dos livros dele que entendi que a alma é eterna, que nossa passagem na terra é um aprendizado e que estamos aqui para aprendermos a ser melhores e resgatar as nossas faltas.
Continuava com as minhas atividades na igreja e, mesmo sendo muito grata à todo esse aprendizado, ainda sentia um pedaço de mim faltando. Minha mãe e minha avó nunca foram a favor de que eu aprendesse ou entrasse para a "macumba" como elas diziam. Mas hoje consigo entender que ainda não era o tempo!
Fui crescendo e a fome por conhecimento e por me sentir completa só aumentava. Comecei a ler e estudar cada vez mais sobre a cultura ancestral. Naquela época não se tinha a facilidade da internet como hoje! Ou você lia livros e procurava seus mais velhos, ou morria a míngua.
Então eu lia os livros espíritas do meu pai e, sempre que podia, ia numa biblioteca e caçava livros sobre candomblé e umbanda. Aprender sobre essas relações, sobre essa cultura, me fazia feliz e completa... E também me fazia, de certa forma, entender minha missão aqui.
Quando comecei a trabalhar fora o aprendizado ficou mais fácil. Tendo mais acesso às feiras livres no centro do Rio, comprar livros e ampliar meus conhecimentos era fácil porque, agora eu tinha o meu dinheiro e não precisava pedir aos meus pais.
Frequentar terreiros ainda era um imenso problema porque minha mãe, em nenhuma hipótese permitia ou aceitava. Mas então, com 14 para 15 anos eu conheci meu esposo!
Tive muitos problemas com a família dele, enfrentei muitas coisas e, juntos, passamos por muitos momentos, tanto bons quanto ruins. Foi então que, após uma fase bem complicada na minha vida, em uma das idas à casa das minhas cunhadas, conheci um senhor maravilhoso... Meu eterno pai Maurício (in memoriam)!
Numa roça de candomblé, chão de cimento, simples, mas com muita energia! Foi com ele o meu primeiro jogo de búzio, a confecção dos meus primeiros fios de conta, o primeiro bori, e a certeza infinita de que tinha achado meu lugar. Oxalá se apresentou, e depois Oya e Osún... Com ele fui entendendo o que é ancestralidade, aprendendo o que é hierarquia e respeito.
Passei por mais bocados. Minha mãe não aceitava! Não queria ver a filha envolvida com "macumba" não. Ia atrás de mim sempre que eu ia para a casa das minhas cunhadas (que muitas vezes me encobriam para não me prejudicar), ligava para Deus e o mundo só pra ter certeza que eu não estava no centro!
Aquilo tudo me deixava muito triste, e me fazia continuar frequentando a igreja para não desagradar a ela. E durante treze anos da minha vida foi assim... Idas e vindas nas atividades da igreja, estudo constante das religiões de matriz africana, ida a terreiros (de forma escusa para que ela não soubesse), e a nutrição constante do meu amor pelos meus orixás.
Hoje, com 32 anos, um novo momento se desdobra. Esse é o ano da minha iniciação, o ano aonde minha trajetória para o sagrado se inicia, o ano aonde o meu coração se completa e se enche de felicidade por estar indo de encontro ao que eu realmente creio!
E nesse ano pretendo compartilhar aqui cada momento da minha caminhada até o dia da minha iniciação.
Muito obrigada a todos que estão participando dessa trajetória, só gratidão pelo amor e incentivo que vocês me dão! Gratidão especial à minha casa, o Ilê Asé Omin Lokun Kolayó e ao meu pai, Renato ti Yemonja que me acolheu e cuida de mim com tanto amor.
Gratidão também ao meu irmão George Wallace e à minha querida irmã Ana Braga por toda a troca de conhecimento, por toda a força e por estarem comigo nesse momento tão especial.
Muitos textos ainda virão! Espero que vocês gostem e acompanhem meu caminho daqui pra frente!
Lindo texto, testemunho maravilhoso. Irmã estou aqui pra te dizer que sua caminhada é iluminada e conte comigo sempre. Que pai Òsaalà lhe cubra de bençãos e lhe proporcione um renascimento repleto de Asè. Nascer para o santo e dobrar seu amor, é descobrir o verdadeiiro sentido da vida e vislumbrar a benevolência dos ancestrais. Orisà é vida e amor!❤️
ResponderExcluirAwurê irmã 🙏, lendo sua história lembro da minha que tão parecida aí vejo que almas afins se encontram em algum momento da vida .
ResponderExcluirParabéns por sua inciativa. O q importa é se sentir bem e praticar o bem. Bjos de luz!!!
ResponderExcluirTexto maravilhoso,um imenso prazer tê-la como irmã....motumba.
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