domingo, 28 de fevereiro de 2021

Sobre estar em contato direto com o sagrado

 Olá irmãos de fé!



Depois de alguns dias sem escrever, decidi trazer para vocês um pouco do meu olhar, da minha percepção sobre a nossa religião.

Hoje, a Ana consciente diz àqueles que querem adentrar os segredos dos orixás o seguinte: se você não tem amor e nem responsabilidade, não entre.

Antigamente, a Ana diria: se você quer, faça.

Já ouviram o ditado "Tudo posso, mas nem tudo me convém!"? Pois é. Ele nunca falha! O candomblé é uma religião que te exige princípios morais que, se não vierem da criação, dificilmente serão aprendidos dentro da religião.

É uma religião aonde idade é sinal de superioridade, ande tempo de santo vale mais que os anos corridos. Uma religião aonde, o fazer por todos é a máxima. Aonde o orixá está sempre em primeiro lugar. Aonde se mata (bichos) para se ter a vida. Aonde abaixar a cabeça não é sinal de inferioridade, mas de humildade e dedicação.

Oque se vê muito por aí são pessoas querendo ser mais do que são, querendo ser maiores até do que o próprio orixá. E isso pra mim é muito triste.

Esse dias por exemplo, eu tive a seguinte experiência: um 'amigo' de anos, ebomy, me pediu uns livros emprestados e eu falei que tudo bem. Entre a leitura dos títulos ele começou a falar que aquela leitura não era pra mim porque eu não sou iniciada, que tinha informações ali que eu não podia saber. Que era uma leitura pra ele que é ebomy. Que eu estava querendo saber mais do que deveria. Que isso e aquilo...

E confesso que os comes dele me fizeram MUITO MAL. Não pelo que ele falou, mas o modo como falou. Como se eu estivesse errada em buscar conhecimento, como se as informações que existem naquele determinado livro fossem a verdade absoluta no candomblé!

Eu já falei em outras postagens, mas não custa repetir: POSSO LER MILHARES DE LIVROS, MAS SE EU NAO TIVER A PRÁTICA DA VIVÊNCIA DENTRO DO ILÊ AXÉ, DE NADA ME ADIANTA TODO ESSE CONHECIMENTO!

A diferença é que, com um pouco de informação você tem a possibilidade de questionar e, assim adquirir mais conhecimento ainda.


Não seja você o mais velho que faz o mais novo se sentir um lixo. Seja aquele que educa, que orienta, que apoia e que ensina para que o iaô seja, no futuro um ebomy que também ensina, orienta e educa também.


Axé!



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Um pequeno desabafo...

 Olá irmãos de fé.

Um pequeno desabafo porque eu preciso deixar isso em algum lugar, que não seja no meu coração guardado.

Não é porque eu estudo, que sou curiosa e quero sempre aprender que eu estou querendo ir à frente do que me é permitido. Não é porque eu busco conhecimento em livros que eu vou me intitular a sabedora de tudo e querer ir contra o que meus mais velhos me falam. A cada oportunidade que eu tenho de estar no meu barracão com os meus mais velhos eu vejo o quanto eu não sei de nada!, O quanto sou pequena e, o quanto o conhecimento teórico sem a prática e experiência é vão.

Eu não sou e nunca vou ser arrogante só porque eu leio e, consequência disso e da minha boa interpretação, acabo aprendendo algumas coisas. NUNCA, nunca eu vou entrar no meu ilê de nariz levantado, achando que sei tudo e querendo fazer tudo por conta própria. EU SEMPRE vou abaixar a cabeça para os meus mais velhos... SEMPRE!!!

O conhecimento me permite perguntar para então, aprender. Sem conhecimento e estudo você não pode jamais perguntar algo pois, corre o sério risco de ser mal interpretado e falar besteira. Pelo menos, com o mínimo de conhecimento você se torna, ao menos, capaz de abrir a boca sem falar m***a.

É extremamente desagradável alguém te dizer como agir e o que fazer sem que você tenha perguntado isso. Eu amo ler... independente da leitura, eu AMO LER! Mas se eu posso unir o útil ao agradável, porquê não fazê-lo?

Estou muito chateada, mas precisou isso acontecer para que eu abrisse meus olhos e compreendesse mais os ensinamentos dos meus guias e orixás.

Desculpem o desabafo...



Sobre ser, estar e permanecer

 Olá irmãos de fé!

Hoje eu quero trazer um assunto que, particularmente acho bastante complexo e, em certo ponto até delicado: a diferença entre ser, estar e permanecer.

Vocês devem estar se perguntando porque trago esse assunto se o intuito desse blog é falar sobre as minhas impressões e vivências até o dia da minha iniciação. Bom, esse assunto tem sido muito tangível pra mim desde que entrei para o meu ilê. E confesso que está sendo um assunto que muito me agrada quando posso falar pois, na minha cabeça e no meu coração eu já sei exatamente o que quero e, no que depender de mim, será sempre dessa forma.


Como eu sempre digo e morrerei falando, eu não estou no candomblé por pessoas mas sim pelo meu orixá, pelo amor ao sagrado e pelo chamado que sempre tive. Quem entra numa religião por pessoas corre o sério risco de, futuramente se decepcionar. Isso é fato! E é justamente aí aonde eu entro nas questões de ser, estar e permanecer.

Ser candomblecista, na minha visão, é ser alguém que ama e respeita o sagrado, que confio numa força imensamente superior à sua, que sabe se colocar em seu lugar, que tem amor para como o seu próximo e mais amor ainda para consigo mesmo, que sabe quando calar e quando falar, que tem cuidado consigo, com o próximo e principalmente com o sagrado. Ser, na minha visão, é escolher o seu caminho e ter orgulho da escolha feita. Ser, é não ter medo de confiar de olhos fechados pois sabe que está amparado/a e que, no momento oportuno a resposta aparecerá.

Veja que, isso tudo o que eu citei acima é A MINHA VISÃO.

Já estar é somente ir a um ilê para uma festividade, é "comprar" um jogo de búzios para saber o seu orixá ou para saber se você vai ter sorte no amor ou no emprego, é acender uma vela porque "alguém" disse que era dia do orixá tal... É não ter o compromisso certo. Você está candomblecista ou umbandista porque é moda, porque seu amigo é, porque o filho do irmão do seu amigo frequenta uma casa e te chamou. Você não tem o compromisso, porque não quer assumir a religião ou até mesmo porque não se identifica e só quer mesmo agradar àquele amigo ou conhecido que te convidou a ir no seu terreiro.

Novamente, isso que eu disse é A MINHA OPINIÃO.

Agora vamos ao permanecer...

Esse pra mim é o mais belo de todos! O permanecer fala de amor, dedicação, cuidado, carinho e muito mais. Permanecer é saber que, mesmo que um ilê seja formado de pessoas distintas ali está a morada do orixá. Mesmo sabendo que pessoas são pessoas e que, ninguém nunca será perfeito, você não vai se importar com isso e vai seguir a diante por amor ao sagrado. É saber que falarão mal da sua escolha, que falarão mal da sua casa, que falarão mal da sua vida, mas mesmo assim você nunca culpará seu orixá pelo que te acontece. É saber que, o seu babá ou yá é um ser humano como você, e ele/a não é responsável se as coisas não acontecem pra você mas você sim, é o UNICO responsável pelos seu atos e pelas consequências que eles trarão.

Se pararmos para pensar, o ser está intimamente ligado ao permanecer mas também ligado ao estar. Todos nós, em algum momento de nossas vidas já passamos pelo período de estar e decidimos, em algum outro momento, permanecer ou não.

Eu demorei muito anos para decidir permanecer, e não porque não quisesse, mas por N's outras questões que, inclusive, expliquei na minha primeira postagem. Hoje eu permaneço, e permanecerei até o fim da minha vida! Quero poder fazer pelo meu orixá o tanto que ele já fez por mim, e sei que, tudo o que eu fizer ainda será pouco para demonstrar a ele o tamanho do meu amor e da minha gratidão.


Axé!!!


Sobre a presença dos nossos guardiões em nossa vida

 Olá irmãos de fé!

Sempre passo alguns dias sem escrever, mas quando volto procuro sempre trazer coisas bacanas para vocês.

Hoje eu vou compartilhar um pouco de uma experiência recente que tive e que mostra como os nossos guardiões são vivos e presentes em nossa vida.



Final de semana desses eu fui para o meu ilê axé pois estamos em obras e, nessas situações toda ajuda é bem vinda. Óbvio que eu conto os dias para ter a oportunidade de estar em contato com  sagrado, colocar os pés no chão e agradecer de pertinho todas as bênçãos que recebo constantemente em minha vida. Bom...

Cheguei lá bem cedinho, levei pão para tomarmos café e esperarmos pai levantar para vermos as coisas. Enquanto conversávamos, pai chegou do meu lado e começou a fazer carinho na minha cabeça e, de repente ele grita " Laroyê Exu!". Eu me arrepiei dos pés à cabeça. E ele chamava e chamava, até que eu não vi mais nada. A única coisa que eu sentia era meu corpo fazendo movimentos involuntários e é só do que me recordo.

Quando voltei à realidade, tinha nas mãos uma lista de coisas para fazer e um recado, que pra mim não estava muito claro. Exu dizia que, em relação a determinada pessoa que ele chamou de "gordo", era pra eu não ficar mais segurando a pemba dele e ficar só ouvindo. Beleza! Quem me conhece sabe que sou meio lerda ás vezes então, não entendi o recado logo de imediato.

Passou. Dia desses um amigo meu de muitos anos veio em minha casa e, como nas demais vezes ele se sentou e começou a falar (ou melhor, reclamar). E falava e falava, e ia falando. Eu só ouvindo e pouco falando como sempre fiz. Sou o tipo de pessoa que não dá opinião nos assuntos a não ser que me peçam. Não gosto de opinar porque também não gosto que deêm opinião na minha vida, a não ser que eu peça. Então continuemos...

Daí ele falava e falava, e falava e falava como sempre fez, e eu só ouvindo. Acabou meu horário de trabalho e ele, igualmente foi embora. Eu senti que, quando tranquei o portão minha expressão mudou. Senti como se um Egum tivesse sentado nas minhas costas! Entrei e fui pra cozinha ver algo para jantarmos.

Resolvi fazer um macarrão que era mais rápido por causa da hora. Resumindo... O saco de macarrão escorregou da minha mão e espalhou macarrão pra todo lado. Fui fritar uns bolinhos de bacalhau, e pra variar, a cada bolinho que eu colocava no óleo era um "Puf!", parecendo que eu havia jogado água no óleo quente. Tudo desandando, mas mesmo assim eu fiz a comida.

Falei pro meu marido: "Vou acender um incenso e passar na casa pra ver se melhora porque eu estou me sentindo pesada.", e aí meu marido vira e fala: "Filha... o gordo!"

Quase chorei!

Naquele momento entendi o que o meu exu tinha me dito. Ele quis dizer, e isso vale para qualquer pessoa que entre na minha casa, que eu agora ia ficar por conta própria. Que ele não ia mais segurar os problemas que os de fora me trouxessem, que eu ia ter que aprender a falar!

Falar pra pessoa não reclamar, parar de ficar dando conselhos sem ser solicitada e etc. Ali eu entendi as palavras do meu velho. Pela boca do meu esposo!

Eu decidi compartilhar essa história pra mostrar o seguinte pra vocês: Seu orixá e seus guardiões e guias não te abandonam nunca, mas eles te educam! Te mostram que eles estão ali para te ajudar nos SEUS problemas, mas que você precisa aprender a se impor perante as pessoas. Você não é e nem precisa ser psicólogo de ninguém afinal, muitas vezes você tem os seus problemas e, as pessoas em vez de te darem uma palavra amiga vêm com conselhos de resolução.

Então irmãos, confiem! Orixás e entidades estão sempre nos orientando e mostrando o caminho a seguir. E nunca duvidem do que eles te pedem, afinal, você nem sempre vai saber o motivo daquele pedido de imediato.


Axé!!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

ESÙ não é o diabo e LEGBA não não é não é Pombogira!

 Olá irmão de fé!

Na terceira postagem de hoje eu trago uma questão muito comumente encarada pelos praticantes das religiões de matriz africana que são, a associação de Esù ao demônio e a de Legba à pombogira.

Esù


Vamos tratar primeiro aqui da questão histórica.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil trazendo os negros em seus navios para serem utilizado como escravos em suas plantações de café, em suas casas e etc, foi-lhes tirada a possibilidade de cultuar seus deuses. Os negros vinham nos porões dos navios com sua crença na cabeça, na alma, e escondida também nas imagens dos santos católicos (daí o termo "fazer santo").

Para dominar as terras que queriam, os cristão detentores da maior parte do poder à época, decidiram criar uma figura que causasse medo e fosse promotora da submissão. Sendo assim, foi criada a figura do demônio ou diabo, um anjo expulso do céu por querer se igualar à figura Divina. Um ser que, por sua ganância e ego imensos achou que poderia ocupar o lugar de Deus e, este em sua divina sabedoria o exilou no mais profundo da terra para que dali jamais saísse.

Vamos lá!

O cristianismo bem como o conhecemos data do séc. I, nascido numa região chamada Palestina por um homem chamado Emmanuel (o Jesus que conhecemos). Essa religião foi espalhada principalmente durante a expansão do império Romano. Tem suas crenças baseadas principalmente nas tradições judaicas, aonde se crê na vinda do Messias para salvação e redenção dos seres humanos.

Essa doutrina tem, aproximadamente, 2000 anos enquanto que, estudos apontam que as doutrinas mais antigas do mundo são a religião védica, o Hinduísmo, juntamente com o budismo e o culto ancestral africano (de onde o candomblé que conhecemos é derivado).

Dessa forma, se tratarmos por aspectos históricos é impossível mantermos a crença no diabo católico! Só por contar que a crença nos orixás data de aproximadamente mais de 5 mil anos...

Legba

Ainda nesse gancho, aproveito para dizer também que Legba não é pombogira!

Legba é um vodum daomeano, precursor da criação, associado ao movimento e aos caminhos. Seu equivalente é Esù nos candomblés de Ketu e Efon. Assim como seu correlato, Legba é um vodum que possui filhos assim como os demais orixás ou seja, assim como Bessén, Averekete, Gu e os demais voduns do panteão da cultura Jeje Mahin, Legba tem cabeças! Em algumas vertentes do cuto ancestral trazidas ao Brasil e à outros países como o Haiti por exemplo, Legba possui culto e liturgias próprias.

Já Esú, orixá também precursor da criação, é relacionado ao movimento, força, vigor, reprodução (não ao ato sexual em si, mas à reprodução propriamente dita), e também aos caminhos. Esù é o primeiro orisà a existir, antes mesmo de todos os outros, ele é o detentor primordial do jogo de búzios, concedendo depois à yá Osún. É ele quem se multiplica e começa o "povoamento" do espaço vazio que existia diante de Orummila.

Veja que, só pelas descrições acima é impossível comparar Esù ao diabo católico e Legba à pombogira justamente pela cronologia temporal. Assim como o diabo tem sua criação em data posterior ao culto de Esù, nossos guardiões Exus e Pombogiras são muito mais novos que Legba.

Espero ter esclarecido algumas questões a respeito de Esù e Legba. Qualquer dúvida que surgir, coloquem nos comentários e eu responderei com maior prazer!

Axé!!!


Omoloko

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de fé! Hoje vou falar um pouco sobre essa nação tão bonita e que, há pouco tempo venho conhecendo: a n...