quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Omoloko

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de fé!

Hoje vou falar um pouco sobre essa nação tão bonita e que, há pouco tempo venho conhecendo: a nação Omoloko.

O Omoloko é uma nação, assim como Ketu, Efan e Fon. Tem sua forma própria de culto, agregando ao culto dos orixás o culto dos nossos ancestrais direto, ou seja, caboclos, boiadeiros, exus e pombogiras. Embora haja muitas divergências sobre a origem do Omoloko, eu abordarei aqui a rama de Tata Tancredo (Tancredo da Silva Pinto - 10/08/1904-01/09/1979).

Tata Tancredo foi, em meu breve entendimento, o maior difusor da nação Omoloko. Além de ser o fundador da Federação Espírita de Umbanda com a qual rompeu em 1952, Tata Tancredo foi também um dos maiores defensores de que a umbanda é africana porém, devido a um embranquecimento da cultura, muitos alegavam que existiam "2 tipos" de umbanda: a "umbanda branca" de Zelio de Morais, que não aceitava o uso de atabaques, o sacrifício animal e nem qualquer tipo de mistura com o candomblé; e a "umbanda africana", uma umbanda mais popular e que resgatava as raízes ancestrais do povo.

No culto Omoloko há o culto aos orixás como já falei anteriormente, mas também há o culto e presença muito forte do caboclos, pretos velhos, exus, baianos, boiadeiros e etc. As divindades possuem, geralmente, nomes iorubás ou congo-angola. Os "Orukó" (nomes dos santos) são dados através de consulta ao jogo de búzios! Sim! No Omoloko se utiliza o jogo de búzios para verificar o orixá dos filhos de santo. Os assentamentos dos orixás são muito semelhantes aos utilizados no candomblé, os exus normalmente são "assentados" com argila e, o período de recolhimento também é semelhante ao do candomblé ketu, não sendo menor que 3 dias.

O interessante é percebermos que, mesmo com tamanha semelhança com a ritualística do candomblé o Omoloko mantém sua ritualística própria quase que intocada por bem dizer. Mesmo com o passar dos anos, a cultura e ritualística difundidas por Tancredo se mantém ainda muito vivas até os dias atuais e, embora esteja se tornando cada vez menos frequente vermos uma casa de Omoloko, as que ainda resistem e persistem em sua caminhada mantém incólumes os ensinamentos herdados de seus antecessores.

E se você tem interesse em conhecer um pouco mais sobre essa nação tão linda, deixo abaixo alguns links que vão te ajudar a conhecer históricamente um pouquinho mais:

https://www.ufjf.br/bach/files/2016/10/WALERSON-FERNANDES-DA-SILVA.pdf

https://templopanteranegra.com.br/umbanda-omoloko/

https://templopanteranegra.com.br/umbanda-omoloko/tata-tancredo-da-silva-pinto-pequena-biografia-do-fundador-da-umbanda-omoloko/


Muito axé pra todos nós e até a próxima!

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Discussão literária IV

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de axé!



Voltamos à ativa e agora, seguindo o plano de publicar um post bacana por dia!

Nessa pegada, seguimos com a nossa dissecação do livro O Candomblé Bem Explicado, de Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã.

Hoje falaremos um pouco sobre as principais nações que formaram as religiões africanas no Brasil.

Sabemos que, durante o processo de colonização aqui da nossa "Terra Brasilis" foram trazidos escravos de diversas regiões da África. Algumas dessas etnias que aqui aportaram, com o tempo foram extintas ou esquecidas porém, as etnias bantu, yorubá e fon foram as que prevaleceram durante o período de colonização e que, de fato, contribuíram para a formação das religiões de matriz africana no brasil.

Todas essas nações tinham suas diferenças. Comportamentos, vestimenta, linguagem... Tudo isso, em meio ao processo de escravização que era sofrido foi fator determinante para a construção de um movimento religioso que visava remontar à fé praticada em terras natais.

Aqui eu vou me valor da denominação contida no livro em questão para designar as etnias que aqui se fixaram. Usarei o termo iorubá para falar da nação que engloba todas as que cultuam orixás como Ketu, Ijexá, Oyó, Efan e etc.; Fon substitui o termo jeje para denominar os que cultuam os voduns como os de Benin, Abomey, Savalu, Ewes e etc.; Ficando somente o termo bantu que, de todos, foi o único que não recebeu nenhuma denominação pejorativa.

Referente aos termos pejorativos, o nome nagô era utilizado pelos Fons como forma de escárnio aos adversários que invadiam suas terras ou então que chegavam escravizados como troféus, vindos de territórios iorubás. Este nome abrange toda a cultura dos povos do sudoeste da Nigéria porém, sem nenhuma conotação histórico-geográfica e nem política. Ao chegar aqui no Brasil esse termo foi, principalmente, assimilado pela nação ketu.

Já o termo jeje ou adjeji vêm do iorubá e significa "forasteiro ou estrangeiro". Também foi uma forma encontrada pelo iorubás para afrontar os povos fons. Sabe-se porém que, não existe nenhuma nação chamada jeje na África. Aqui no Brasil, jeje é o candomblé formado pelos povos fon e ewe advindos do Benin, Daomé, Togo e Gana.

Na vinda para o Brasil, muitos desses povos que eram inimigos entre si foram obrigados a se irmanar para sobreviver, produzindo assim um sistema religioso próprio, muito diferente do existente na África porém, adaptado de forma que não se perdessem séculos de uma religião tão antiga quanto, talvez, os primeiros habitantes da terra.

Para não ficar um texto muito extenso e maçante, vou finalizar esse primeiro momento e volto com a parte II.


Gratidão e muito axé a todos!

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Xaorô, Contra-egum, Umbigueira e Mocã. Você sabe para que servem?

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de fé!

Decidi trazer nesse post um dos assuntos que, muitas das vezes ficam rodeando a cabeça dos noviços: o uso do xaorô, contra-egum, umbigueira e mocã.

Sabemos que, muitos abians e até mesmo iaôs não sabem ou não entendem o porquê do uso desses "instrumentos" tão necessários nos períodos de obrigações, iniciação e também para alguns tipos de ebós. Esses instrumentos têm a finalidade de proteger o adepto das energias negativas que podem vir a atacá-lo.

Falaremos um pouco sobre cada um desses instrumentos abaixo.


O Xaorô


O xaorô consiste em uma tira de palha da costa trançada tendo preso um guizo a esta. É utilizado em honra a Yemonja e Obaluaiê.

Conta o itan que, ao ser "abandonado" por Nanã nas margens da praia o pequeno Obaluaiê tinha seu corpo todo coberto por chagas. Essas chagas eram devido às mordidas dos caranguejos e também devido ao fato de que o mesmo era uma criança muito fraca e pequena, havia também ficado muitos dias ali exposto ao sol e às variações de temperatura do ambiente marítimo o que acabou por deixá-lo em estado muito delicado, quase à beira da morte.

Yemonja passeando pela praia encontra o pequeno, em estado lastimável, e o socorre. Leva-o para seu reino e cuida de suas feridas, envolve-o em palha da costa e limo da costa para que suas feridas cicatrizem, lhe dá de comer e, posteriormente o faz tão rico quanto ela própria dando a ele pérolas e demais riquezas.

Enquanto Yemonja dispendia cuidados para com o pequeno Obaluaiê, o menino se mostrava arredio e um tanto quanto rebelde. Escondia-se dela nas margens da praia em meio ás árvores, e ela por vezes voltava para casa sem sequer saber aonde o menino havia se enfiado.

Para se poupar de tamanho trabalho e garantir que o menino tivesse os cuidados necessários, Yemonja confecciona duas tiras de palha da costa trançada e amarra a elas alguns guizos. Feito isso, ela aproveita o momento de sono do menino e amarra aos tornozelos da criança para que, se ele fugisse novamente, fosse mais fácil de encontra-lo devido ao barulho que faria quando ele se locomovesse.

Sendo assim, o xaorô serve como um instrumento de dupla utilidade. Para localização do noviço aonde quer que ele vá, mas também como forma de proteção uma vez que o barulho dos guizos afasta os eguns de perto de quem utiliza os xaorôs.


O Contra-egum


Como o próprio nome já diz, o contra-egum tem a finalidade de afastar os espíritos dos mortos (eguns). É confeccionado de palha da costa trançada e amarrado nos braços do noviço, quase próximo aos ombros. Sua função é proteger os membros superiores das energias negativas, da aproximação de ajés (bruxas), eguns (almas dos mortos), oxôs (feiticeiros) e ajás.


Umbigueira



A umbigueira assim como o contra- egum serve para proteger o corpo do iniciado das energias negativas porém, a umbigueira têm a função específica de proteger o chakra umbilical. É importante agregar aqui que, esse chakra é relacionado à vida e á reprodução logo, protegê-lo das energia negativas é extremamente importante não só no período iniciático mas também, durante toda sua vida.

Na maioria das vezes quando você se sente esgotado energeticamente, pode ser um significado que seu chakra umbilical está aberto demais o que ocasiona a perda de energia positiva reguladora e entrada excessiva de energias aleatórias, inclusive energias negativas.


O Mokan ou Mocã


O Mokan ou Mocã é um cordão longo, feito de palha da costa trançada e com duas pontas como "vassourinhas" em suas metades superior e inferior. Simboliza a ligação do orum com o ayê, do iniciado com o seu orixá.
O uso do mocã é EXCLUSIVO dos iniciados para orixá. Todo iniciado deve utilizar seu mocã ininterruptamente e acompanha este durante todo seu período de iaô. Infelizmente, nos dias atuais é cada vez mais difícil ver os iniciados utilizando seu mocã, talvez por falta de rumbê, talvez por falta de compreensão do significado desta peça tão importante para nós do candomblé.
O mocã acompanhará o iniciado desde o momento de sua iniciação para orixá até o momento de seu retorno para o orum.


O mais importante aqui é lembrar que todas essas peças são de extrema importância em nossa ritualística, uma vez que juntos constituem a proteção completa para o corpo do iniciado formando assim uma "cruz" de proteção por bem dizer, que engloba todos pontos vitais, de entrada e saída de energia do corpo do indivíduo.

Espero que tenham gostado desta breve elucidação sobre o motivo da utilização destas peças!

Abraços a todos e muito axé!


domingo, 24 de outubro de 2021

Discussão literária III

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmão de fé!



Prosseguiremos paulatinamente com a nossa discussão sobre o livro O Candomblé Bem Explicado. E como se trata de um livro bem extenso, não só no que diz respeito à temática do candomblé mas também ás passagens históricas sobre o "surgimento" da religião em nosso país, decidi, até mesmo para não ficar muito maçante a leitura, ir dissecando o livro através das pequenas partes que compõem cada capítulo.

Nesse post falaremos sobre as dificuldades que o povo do santo teve e tem até hoje para ter reconhecimento da sua fé enquanto religião e sobre a ação do sincretismo religioso. Decidi falar sobre esses dois temas conjuntamente pois acredito que os dois estão intimamente ligados.

É importante ressaltar que, os negros que aqui aportavam eram catequisados no intuito de que esquecerem de seus deuses e de sua fé. Eram oprimidos pelos senhores brancos, pela igreja católica e pela sociedade luso-brasileira para que se esquecessem dos seus "demônios", seres esses que nem espaço têm dentro do seio de nossa religião uma vez que não existe a representação do mal e nem do inferno que tanto prega a igreja católica.

Essa perseguição aos cultos de matriz africana realizada pela igreja acontece desde tempos idos, uma vez que houveram as famosas Cruzadas aonde tudo aquilo que fosse diferente daquilo que o clero pregava era perseguido, destruído, excomungado, torturado, queimado...

E conosco não seria diferente!

Por este motivo o negro aportado aqui se viu na iminência de ter que "arrumar um jeito" para se conectar com as suas divindades. E essa forma foi o sincretismo religioso! Vincular suas deidades aos santos católicos foi muito útil à época pois, somente dessa forma era possível que nossos ancestrais se comunicassem com seus deuses sem tanta importunação dos brancos. Cabe ressaltar neste parágrafo que, "o sincretismo foi extremamente útil e necessário há 300 anos atrás"... hoje ele já não nos cabe mais, embora ainda hajam muitos remanescentes em nossa vivência atual.

Graças a muitos babalorixás e yalorixás como Maria Neném, João da Goméia, Pai Bobó de Oyá, Gisele Omindarewa entre tantos outros que lutaram e lutam pelos nossos direitos até os dias atuais, é que podemos utilizar nossos fios de conta e nossa indumentária religiosa em público, pois somos amparados pela constituição brasileira, mais especificamente pelo art. 208 do Código Penal, art. 5º da Constituição Federal e o art. 215, parag. 1º da Constituição Federal. Graças à esses senhores e senhoras não é mais necessário o uso do sincretismo, graças à essa luta não precisamos mais temer sermos rechaçados, presos e afins devido à professar nossa fé publicamente.

"O sincretismo distorceu o candomblé, reduzindo a dimensão e a grandiosidade das nossas divindades. Ao mesmo tempo, pretendeu transformar as religiões de matriz africana em politeístas, ou seja, adoradores de vários deuses. Tentaram transformar nossas divindades em "deuses", ignorando Olorum/Olodumare, "Senhor Supremo e Absoluto de todas as coisas", nosso Deus e a divindade criadora para ou yorubás!" (in O Candomblé bem Explicado, p. 36)

Embora ainda enfrentemos muitos percalços no caminhar da nossa evolução religiosa, hoje sabemos que as pedras que tiveram em nosso caminho no passado foram sábia e arduamente utilizadas para construir a estrada que caminhamos hoje. Que saibamos honrar e respeitar a estrada que pisamos hoje, que saibamos agradecer à luta que foi e ainda é travada para que possamos caminhar mais leves e tranquilos.

Gratidão e muito axé e luz pra todos!

sábado, 23 de outubro de 2021

Sobre renascer...

 Bom dia, tarde, noite irmãos de axé!



Do seio de Onilè eu renasci...
Em seu infinito amor maternal, Onilè me acolheu em seu útero sagrado, me embalou e me gerou. Em seu abraço maternal, ouviu minhas súplicas, secou minhas lágrimas e me compreendeu.

Quando meu corpo esteve cansado, me deitou em seu colo de mãe e me embalou até que minha cabeça esquecesse de tudo e, enfim, adormecesse. A sábia mãe terra cuidou carinhosamente da minha geração, e mesmo sabendo que acolhia em seu seio um ser feito de ar e água, não mediu esforços para que eu nascesse e se entregou enquanto eu, só sentia profundamente seu amor maternal.


Fui embalada, chorei, sorri, refleti... Em um pouco tempo que para mim foi muito, revi e revivi minha vida. Meus erros, meus defeitos, minhas qualidades. Tudo isso eu vi de perto e a fundo e descobri que, naquele momento eu estava ressurgindo! Me curei e também liberei a cura para todos os meus. Entendi minha ancestralidade. Entendi que ali começava uma nova vida. Ali entendi que o passado é algo que de fato não podemos mudar, mas que podemos mudar, mas que temos sempre uma nova página no livro da vida para fazer um amanhã melhor.


Nasci! No dia 16/10/1988 às 15:15 eu nasci. Do ventre da minha mãe, que me guardou durante 40 semanas, e que me guarda na alma até hoje... Que mesmo com todos os meus erros e defeitos, eu tenho a certeza que me ama e que se esforça para entender minhas escolhas.
E no dia 16/10/2021 eu NASCI! Nasci para o sagrado, para a minha família de axé e para o meu orixá. Nasci para uma nova vida, para ser alguém muito melhor do que eu já fui, para me mudar e consequentemente mudar o mundo ao meu redor.


O único sentimento que consigo expressar é amor! Sou inteira amor!

E todas as vezes que eu escrever, falar ou lembrar do dia 16/10 sempre será com muita alegria! Alegria por ter tido uma nova oportunidade, alegria por ter NASCIDO, alegria por fazer parte de uma família, alegria por saber que sou imensamente amada, alegria por ter ao meu lado pessoas que me ouvem, orientam e aconselham.

Nascer para o sagrado foi e sempre será a melhor escolha da minha vida. Muito mais que um desejo do coração, uma necessidade da alma, algo que sempre esteve muito além de mim! Algo que veio e permanece no sangue. Um sangue ancestral, que trouxe pra mim a força da crença de que algo muito maior que eu está a me guiar, proteger e orientar.

E que você que leu até aqui consiga sentir uma parcela desse amor que me inunda a cada momento, e que eu consiga passar a você que me acompanha o tanto de gratidão e felicidade que existem dentro de mim.

"Sou filha do grande rei branco, minha alma é leve como vento e clara como a água. Sou do santo, sou de axé. Carrego na alma a resistência, a resiliência e o amor de todo um povo. Sou filha de Osàálá!"

Gratidão!

Omoloko

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de fé! Hoje vou falar um pouco sobre essa nação tão bonita e que, há pouco tempo venho conhecendo: a n...