Olá irmãos de fé!
Continuando sobre o tema educação de axé, trago para você hoje a palavra de ordem: Rumbê!
Observem a delicadeza dessa imagem. Uma pessoa mais velha de santo se abaixa e bate cabeça para uma pessoa mais nova, um herdeiro de axé. Essa é uma imagem se não rara, quase extinta de se ver. E é por isso que decidi permanecer no tema da educação e tratar sobre o rumbê. O rumbê vai muito além de "saber executar" tudo que é inerente ao sagrado, o rumbê é um conjunto de atitudes que são esperadas de um bom adepto.
Aproveito aqui para colocar bem a definição de Rumbê dada por Eduardo T'Ogun na página medium.com:
É pegar numa vassoura para varrer o barracão, a cozinha, os quartos…
É manter tudo em condições de uso.
É lavar a louça suja na pia, secar e guardar.
É zelar pela ordem e pelo bom andamento da casa.
É lavar a roupa, os panos de prato, as toalhas de mesa…
É ter uma linguagem apropriada.
É tratar todos (adeptos ou não) com educação.
É ter um sorriso estampado no rosto.
É ser atencioso(a).
É guardar os preceitos.
É fazer as coisas antes mesmo de pedirem e não esperar que tudo esteja um caos para depois fazer.
É manter-se calado(a) quanto à conversas em que participou ou ouviu.
É respeitar a todos.
É deixar as dependências da casa impecáveis (cozinha, barracão, quartos, banheiros, quintal…)
É dar sua opinião apenas quando for solicitada.
É não fazer fofocas.
É incluir a todos na comunidade do candomblé, apresentando e sendo amistoso.
É ter empatia.
É ser resiliente, saber aceitar e dar ordens de forma respeitosa.
É impor-se com educação e ternura.
É saber orientar e ser orientado.
É levantar cedo e cumprir suas tarefas.
É tratar como gostaria de ser tratado(a)."
Sou de Kondombré de mulheres e homens retintos, de pés rachados, por que aprenderam que KONDOMBRÉ É PÉ NO CHÃO e amor por orixá acima de tudo. Sou de KONDOMBRÉ que importante é orixá e não pessoas arrogantes e que acham que porque estudaram, podem e sabem mais.
Sou de KONDOMBRÉ de mulheres que aprenderam a força da folha, a força da pedra, a força do vento na vivência cotidiana nos terreiros e não em Google, livros ou teses de mestrados. Sou de KONDOMBRÉ que preserva o sagrado. Que sabe que pouco é mais! Que reverência orixá por sua força e não pelo que veste. Que conhece segredo de orixá no abraço deste, nos movimentos que faz. Sou de KONDOMBRÉ preservado e aprendido com mulheres que sabe a qualidade e a força do orixá por seu Ilá. Orixá queira que um dia eu tenha essa sabedoria. Portanto, quando quiser ridicularizar essas na internet, aprenda primeiro a tirar uma folha, a conversar com o tempo, pedir força aos ventos que estão ai e sempre foi preservado por essas, sem a força da escrita como você considera “ correta”.
“Quero ver meus filhos com anel no dedo e aos pés de Xangô”, dizia mãe Aninha. Essa frase, expressa seu desejo para que chegássemos a universidade, não para ridicularizar os saberes destes, mas para que melhorássemos nossa qualidade de vida, sem esquecer ou disfarçar a herança DE TERREIRO. A escrita e o conhecimento acadêmico não chegou pra gente deslegitimar a essas. Ao contrário, esse conhecimento é para fazer com que seus saberes e diplomas aprendido da força da palavra, na caída dos búzios na maneira como se tira ou massera a folha, seja reverenciado.
Por isso, me orgulho de ser de KONDOMBRÉ. Sou de KONDOMBRÉ que usa ferramenta e deixa a atenção para orixá e não de CANDOMBLÉ que usa PARAMENTAS e deixa a atenção para o ego de quem o veste. Sou de KONDOMBRÉ que tem medo das “veia”, por conta da exigência destas. De KONDOMBRÉ que orgulho para quem chama ele assim, é ver um iniciado respeitando todo seu esforço para que ele possa fazer parte desta comunidade e não para ridiculariza-las como se o que elas fizeram até aqui não fosse nada. Sou de KONDOMBRÉ que tem o maior orgulho quando um iniciado cumpre os ritos religiosos, e mostra que foi iniciado(a) corretamente (tento fazer isso, ainda não sou o exemplo) e tem “rumbê”.
Sou de KONDOMBRÉ, porque é assim que se preserva o sagrado e não de CANDOMBLÉ que humilha as pessoas por ego e dinheiro. Sou de KONDOMBRÉ que a caída das sementes, traz a força e a energia necessária e não de CANDOMBLÉ que escarneia e humilha o outro. Então, preste atenção antes de ridicularizar, quem fala KONDOMBRÉ. Sua escrita erudita, não tem força pra caída do búzios ou da folha trazida em uma travessia de dor."
Raiz Ancestral
Axé!