sábado, 30 de janeiro de 2021

Plantar a lua

 Olá irmãos de fé!



Bom, a postagem de hoje é um pouco mais direcionada às mulheres porém, não deixa de ser um conhecimento de muita importância aos homens.

Você sabe o que é plantar a lua?

Durante muitos anos foi-se pregado que o sangue proveniente da menstruação era impuro, sujo, mal cheiroso. Por muito tempo também as mulheres foram se esquecendo do quanto é importante menstruar e de como isso nos torna especiais.

Vamos voltar ao passado aonde todas, eu disse, TODAS as mulheres eram tidas como bruxas. Você sabe porque disso? Éramos tidas como bruxas, feiticeiras, pactuadas com o demônio, porque além de menstruar muitas de nós tínhamos um vasto conhecimento sobre ervas e medicina natural que nos tornava poderosas, fazendo com que os homens nos temessem.

O fato de sangrar todos os meses sem que, pra isso ficássemos doentes ou algo do gênero era tido como algo sobrenatural porém, sabe-se hoje que a menstruação nada mais é que a descamação do colo uterino que não teve ali, nenhum embrião formado e implantado.

Em tempos imemoriais a mulher devolvia seu sangue à terra, pois isso era tido como sagrado já que seu sangue alimentaria as plantas que seriam utilizadas para alimentação da comunidade. O sangue menstrual era tido como alimento da terra, devendo ser a ela devolvido para que se tivesse fartura de alimentos.

Sabemos também que, as nossas índias e negras faziam da mesma forma pois, tinham a crença de que o sangue menstrual alimentava a terra e não deixava que ela se revoltasse contra o homem. E então com o embranquecimento e europeização das coisas, foi-se começando a incutir na cabeça de nossas mulheres que a menstruação era suja, mal cheirosa. E com isso fomos parando de alimentar a terra. Fomos parando de devolver à natureza o que lhe é de direito.

Agora muitas mulheres tem falado em plantar a lua. Mas você sabe o que é isso?

Plantar a lua nada mais é que devolver à terra seu sangue, devolvendo a vida que por muito tempo lhe foi roubada.

Isso não exige nenhuma prática, nenhum ritual específico e muito menos significa feitiçaria, rsrrs. Basta que você mulher, dê à terra seu sangue! E como fazer isso? Deixando os absorventes de lado, passando a optar por coletores ou discos menstruais.

Dessa forma você tem acesso ao seu sangue, sangue sagrado gerador de vida e pode dilui-lo e regar suas plantas ou até mesmo, depositar em um jardim caso não tenha plantas em sua casa.

Faça essa experiência!

Volte às suas raízes ancestrais. Faça como nossas tataravós e nossas ancestrais antes delas! Volte a alimentar a terra.

Seja parte da natureza e deixe a natureza ser parte de você também!

Asé o!


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Sobre cargos

 Olá meus irmãos de fé!



Queria falar um pouquinho pra vocês sobre os cargos existentes dentro de uma casa de axé.

Ogan, Ekedy, yawô, ebomi, babalorixá, yalorixá... Essas terminologias provavelmente muitos de vocês já conhecem e estão até bem familiarizados. Mas e os demais "cargos" existentes numa Egbé?

Você já ouviu falar em yalaxé, babalaxé, babalossain, yá ou babá efum, yabassé? Dentre esses temos também as atribuições dentro dos cargos de ogan e ekedy como axogum, yá dagã e outros.

Mas você sabe qual a função desses cargos? Eles são apontados no jogo de búzios? Orixá que designa ou é o babá ou yá quem designa? Pra que servem essas terminologias?

Bom... Começaremos primeiro dizendo que, os únicos cargos que são determinados através do jogo de búzios ou merindilogum são o de babá ou yá e, os cargos de ogan e ekedy. Somente esses são mostrados no jogo através de combinações específicas de odus e caídas. Os demais cargos foram criados para que houvesse a divisão de áreas e tarefas dentro da Egbé, afim de não sobrecarregar o sacerdote e, dessa forma criar-se também a hierarquia dentro da comunidade.

Numa religião de matriz ancestral, aonde o que fala mais alto é a sua idade e o seu tempo de santo, determinados postos são necessários apenas para se dar uma melhor organização das coisas.

Comecemos pelo posto de yalaxé ou babalaxé. O significado desse posto é "cuidador do axé", que significa basicamente aquele que toma conta do axé.

A yalaxé ou o babalaxé são os relações públicas da Egbé. São eles os responsáveis por manter a perfeita organização da Egbé, seja em dias de festa, seja em dia de funções cotidianas. Eles devem prezar por manter o ilê axé arrumado e suas dependências, tanto as abertas quanto as fechadas organizadas e limpas e com todos os utensílios e roupas às disposição para utilização.

Nos dias de festa são eles, as yalaxés e babalaxés, os responsáveis por fornecer uma boa recepção aos convidados de forma geral e orientar àqueles que não estão ainda muito familiarizados com a nossa religião.

Já o babalossain, cargo esse que está aos poucos desaparecendo das casas de axé, é o responsável por colher, separar e destinar as ervas utilizadas na Egbé. Ele sabe, devido aos muitos anos de estudo, os ofós (encantamentos) certos para a colheita e preparação de cada erva.

Infelizmente, devido às falta de prática e de propagação e perpetuação do conhecimento, cada vez menos temos nas egbés esse cargo. É um posto que exige extrema dedicação e muito estudo pois requer, além do conhecimento prático da utilização das ervas, também um conhecimento técnico das aplicações e de classificação das ervas.

O babá efum ou a yá efum são os responsáveis pela guarda do efum e sua utilização. Efum é um pó branco, obtido do calcário que é dedicado a Osáàlá. Este pô é utilizado nas iniciações, em ebós e nos mais diversos tipos de rituais dentro do Candomblé.

O babá efum ou a yá são aqueles responsáveis também pela pintura do yawô em sua primeira saída, a que é dedicada ao orixá Osáàlá. São eles que irão adornar o yawô para sua primeira aparição em público após o período de reclusão no rondeime ou roncó.

E por último mas não menos importante, falarei um pouquinho da yabassé.

Yabassé é um cargo exclusivamente feminino dentro da Egbé. Somente mulheres tem o privilégio de poder cozinhar, tanto as comidas que serão servidas aos orixás quanto as que serão servidas à comunidade num todos.

Elas são as responsáveis por fazer, minuciosamente, as comidas ofertadas nos eboris, também são elas que preparam os axés do orixá, a comida do yawô recolhido e a comida dos demais filhos da casa e, consequentemente da função que está sendo realizada.

Através de seu conhecimento prático, de suas mãos habilidosas e de seu cuidado, todas as comidas da casa são preparadas. Para isso leva-se muito tempo de treinamento pelo babalorixá ou yalorixá, pois estes detém o conhecimento ancestral de como as oferendas devem ser preparadas.

Numa visão geral, todos os postos são importantes para o funcionamento da Egbé pois, cada função mantém uma ordem e coordena uma ação a ser realizada pelo bem de todos.

Espero que estejam gostando e, caso tenham sugestões não exitem em deixar seu comentário!

A intenção é promover a troca e perpetuação das nossas religiões!

Asé o!

Janeiro...

 Olá meus irmãos de fé!



Tenho andado meio ausente mas é por uma boa causa.

Durante esses dias fui presenteada com um novo filho, dessa vez de pelo. Pudim entrou em nossas vidas por livre e espontânea pressão, rsrsrs. A mãezinha dele pariu no meu quintal e, na hora de levar os filhos embora, deixou o Pudinzinho aqui, simplesmente esqueceu o bichinho.

Adotamos. Estamos cuidando e tivemos que fazer já algumas adaptações em casa. Graças a Deus as crianças estão amando ele também e, como ele é bem filhote, o desenvolvimento acompanha a idade dos meus filhos.

Tem sido dias de acordar cedo, dar mamadeira, ver se a casinha não está suja, pesquisar preços de suprimentos pra gato, ensinar a não arranhar o sofá, pesquisar como se educa um gatinho filhote e etc.

E também, durante esse tempo tenho feito pesquisas de preço para comprar as coisas da minha iniciação e acertado os detalhes finais do meu enxoval. Tenho estudado muito também, pois não quero ser uma yawô acomodada, que não se interessa pelas coisas do sagrado.

Agora estou lendo o livro Mitos Yorubás, que traz à luz os principais mitos da cosmogonia yorubana com explicações posteriores sobre o significado do mito.

Lembrando que, na diáspora africana existem centenas de itans acerca da vida dos orixás, tanto no Orum quanto no Ayê, e dentro desse contexto precisamos entender que, todos esse itans são partículas de uma existência que remonta a algo em torno de, aproximadamente, 20 mil anos de existência.

E nesses estudos tenho sido imensamente agraciada com discussões maravilhosas com meu irmão George Wallace que, com seu extenso conhecimento da diáspora africana, de Ifa, de ancestralidade têm me sido um cais aonde eu ancoro meu humilde barquinho e aproveito a maré de informações e trocas que essa amizade me proporciona.

Tenho também tentado absorver e compreender como se processam os meios oraculares de nossa religião. O jogo de búzios, de ikins e o próprio opele Ifa. Sei que ambos os meios divinatorios são pura ciência, mas que também contam muito com a abnegação do estudioso para que sejam entendidos e interpretados da forma mais correta possível.

Em outra postagem falarei um pouco mais acerca desse meu estudo e gostaria muito da opinião de vocês também!

Quero fazer desse espaço um mar...

Aonde se realize uma troca constante de aprendizados e culturas sobre nossas religiões e matrizes.

Meu muito obrigada a todos que entram aqui e que compartilham as postagens!

Asé o!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Sobre gratidão

 Olá irmãos de fé!



Durante alguns anos da minha vida acreditei que tudo  girava em torno da máxima: "Trabalhe para ter seu dinheiro e nunca depender de ninguém!"

Pois é! Depois que me vi sem poder andar, dependente de outra pessoa para que eu pudesse comer e até mesmo para coisas simples como ligar a televisão, percebi o quão curta e transitória a vida é. Percebi que SEMPRE precisaremos de alguém e que NUNCA estaremos completamente sós.

Naquele momento nasceu em mim o sentimento de gratidão. Gratidão por eu estar viva e pelos meus familiares estarem vivos. Gratidão por eles não terem sofrido muitos ferimentos e por eu, de certa forma, ter conseguido absorver o impacto do acidente. Também desenvolvi gratidão pela morte rápida, por não permitir assim que uma pessoa querida sofresse em um leito de hospital ou até mesmo com sequelas que lhe tirariam o gosto em viver.

Sabe, durante todos esses anos tenho desenvolvido ainda mais forte e sólido esse sentimento e, junto com ele uma nova forma de ver a vida. Comecei a perceber que viver não girava somente no fato de ter dinheiro ou não, de viajar ou não, de ter a melhor roupa ou não. Viver bem consiste, principalmente em estar em paz consigo mesmo e com o universo. É acordar e ouvir um pássaro cantar, é sentir o vento, é ouvir o barulho das coisas ao seu redor. É agradecer por ter acordado com saúde. É não se lamentar por nada. É aproveitar cada segundo da vida.

Hoje eu vivo um dia de cada vez, da forma mais plena, com mais calma e sempre olhando as coisas e situações através do lado positivo. Assim eu vivo melhor... Não só eu mas também meus filhos e marido! Ensino aos meus filhos que não devemos nos cobrar em excesso, mas que devemos sempre dar o melhor de nós em tudo que fizermos, e que se não conseguir fazer algo hoje, tente de novo amanhã.

Embora haja quem me critique por isso, que não concorde com a forma como eu vivo e vejo a vida, hoje eu entendo que é dessa forma que vivo e vivemos melhor. Minha família se entrosa mais, vivemos mais em função um do outro dessa forma e as dificuldades que aparecem no decorrer da vida não nós parecem tão difíceis de transpor.

Eu gostaria que, quem ler esse texto tentasse, pelo menos, compreender as mensagens abaixo:

1- Não seja pessimista, isso desgasta rapidamente seu campo energético;

2- Não reclame, isso faz com que energias negativas e perniciosas "colem" em você te deixando mal;

3- Evite pessoas que só reclamam e se queixam de tudo. Se começarem a falar perto de ti, invente outro assunto;

4- Não julgue! Primeiro porque você não é Deus e segundo, porque pra julgar algo ou alguém a sua vida deve ser perfeita.

5- Nunca se desfaça ou humilhe alguém, até porque você não sabe se amanhã ou depois vai precisar daquela pessoa;

5- Não queira saber mais que alguém. Queira saber mais só do que você mesmo, ultrapassar os próprios limites é sinal de força e discernimento;

6- Viva com tranquilidade. Não apresse nada e não fique se justificando para quem quer que seja.;

7- Ame incondicionalmente. Não tenha medo ou ressalvas em mostrar AMOR! Amor deve ser pra todos, o ser humano necessita de mais amor e menos guerras.

8- Pratique os cinco princípios do Reiki diariamente: Só por hoje não sinto raiva, não me preocupo, sou grato, faço meu trabalho honestamente e sou bondoso e amoroso com todos os seres vivo e animais.

Tente...

Tenho certeza que absorvendo pelo menos uma ou duas dessas coisas você será uma pessoa mais plena!

Axé!

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Sobre como o orixá atua em nossa vida

Olá irmão de fé!



Lembram que eu falei que escreveria sobre como orixá agem em nossa vida? Pois bem! Vou tentar fazer isso de uma forma fácil e dinâmica.

Orixá em quem rege nossa vida das mais diversas formas. É ele quem nos guia e protege e, durante nossa vida cuida para que tenhamos uma existência plena e saudável. Mas não pense que isso tudo vem de graça... Não! Orixá nos ajuda e cuida de nós sim porém, precisamos também fazer a nossa parte.

Ao contrário do que muitos pensam, orixá é simplesmente meritocrático e justo. Se você faz por onde, recebe as bênçãos merecida, mas se não o faz o orixá simplesmente faz a mesma coisa que você: fica para do de braços cruzados olhando o vento ventar.

Imagine que nossa vida é uma árvore, os orixás são os jardineiros e nós somos os donos da árvore.

A árvore cresce e, com esse crescimento vai precisando de cuidados. Para que esses cuidados sejam dados precisamos de alguém que entenda deles, mais especificamente um jardineiro. Esse jardineiro é capaz e experiente, podendo fazer com que a árvore cresça saudável e frondosa porém, para que esse jardineiro trabalhe bem ele precisa ser "pago", caso contrário não fará o seu serviço e a árvore tenderá a crescer torta e desajustada. Caso o jardineiro seja bem "pago" fará seu serviço com maestria e a árvore crescerá frondosa, com o mínimo de dificuldades e doenças possíveis, pois seu jardineiro estará sempre zelando por ela.

É bem assim que os nosso orixás agem em nossa vida!

Precisamos cultuá-los da maneira correta, amá-los e respeitá-los como respeitamos e amamos nossos pais e mães. Quanto mais estreitamos no vínculo com nosso orixá, menos problemas enfrentamos, menos dificuldades temos. Engana-se quem pensa que "fazer santo" é caminho para riquezas sem limite ou vida plena em abundância. Isso só acontece em filmes de magia! Renascer para o seu orixá não significa que você nunca mais terá problemas, ou que nunca mais ficará doente. Significa que, além de amar o seu orixá (porque eu ainda acredito na iniciação através do amor ao orixá e não só da necessidade ou da dor.), você terá meios de viver a vida de forma mais saudável, harmoniosa, pacífica.

Quando eu penso em me iniciar para o meu orixá penso no quanto eu o amo, no quanto ele é importante na minha vida e no quanto eu desejo ter seu axé mais próximo de mim. Costumo dizer que, meu paizinho é o ar que respiro, a razão de eu hoje estar viva. Me entristece muito ver pessoas "fazendo santo" por conta de promessas milagrosas de riquezas e prosperidade, por promessas de saúde inabalável ou de relacionamentos que nunca se desgastam. Me entristece ver babalorixás e yalorixás se utilizando da fraqueza e instabilidade do ser humano a fim de obter cada vez mais filhos de santo e, dessa forma, crescerem financeiramente ás custas desses. Me corrói ver filhos de santo que, após a sua obrigação de um ano não estão nem aí para seus orixás, deixando ibás cheios de poeira e quartinhas completamente secas!

Uma vez ouvi de um senhor muito sábio (meu pai Carlos Maurício, in memorian), que: Quartinha cheia e ibá bem cuidado são certeza de uma vida tranquila e em paz! E ele tinha toda razão. Hoje com meu atual babalorixá eu continuo aprendendo esses pequenos detalhes. Ele é um homem bastante cuidadoso com suas coisas e com a coisas de seus orixás também. O ibá de sua santa está sempre limpo e, sua quartinha sempre cheia, constantemente ele acende uma vela para sua santa e sempre está reforçando seus laços com ela. Muito podem dizer: Ah, mas ele é um babalorixá! Não faz mais do que a obrigação! Pois é... só que a diferença é que ele faz isso com amor, respeito e devoção. Nunca vi meu pai negando nenhum pedido de orixá, seja em terra, seja diante do jogo de búzios.

Ah... mas vão falar novamente: Você é abian! Ainda não conhece bem nem os seus irmão de santo, que dirá seu babalorixá! Se enganam. E conheço a história do meu ilê axé, sei quem são seus filhos, sei que é uma casa de respeito e tradição. Somos Efon, temos nossos costumes e preceitos e os seguimos à risca, meu pai orienta todos os filhos de igual maneira porém, existe algo chamado LIVRE ARBÍTRIO que é o que permite a todas as pessoas agirem como bem quiserem. Ele nos fornece os ensinamentos necessários de acordo com o tempo de santo de cada filho e também de acordo com a permissão dos orixás porém, pratica e segue quem quer (e tem bom juízo!).

Eu enquanto abian participo do que me é permitido participar porém, ajudo em quase todos os quadrantes da casa. Seja na limpeza e organização do ilê axé, seja na organização das roupas do ilê, seja ajudando na cozinha, enfim... e em cada tarefa eu aprendo um pouco mais, eu observo como é feito e, se tenho dúvidas não tenho nenhuma vergonha de perguntar!

Talvez por isso eu me considere uma boa abian. Eu me esforço, procuro observar e aprender, estudo o que posso e, se tenho dúvidas recorro imediatamente ao meu baba ou aos meus mais velhos. O que vejo hoje em dia são muitos ebomys feitos "nas coxas", sem o mínimo conhecimento das atribuições de seu cargo, sem conhecimento do funcionamento de um ilê axé e etc. Não quero aqui ser melhor que ninguém ou dar lição de moral, mas como abian que ainda sou quero, do fundo da minha alma deixar algumas mensagens a todos:

1 - Não se inicie para o orixá por vaidade;

2 - Antes de tudo, observe;

3 - Não seja arrogante nem acomodado;

4 - Não reclame;

5 - Esteja sempre disposto a ouvir e aprender;

6 - Utilize sempre seu bom senso;

7 - Não alimente assuntos ou situações que trazem pra perto de si ou de seu ilê energias negativas;

8 - Sempre ouça seus mais velhos;

9 - Não queira pular etapas em nenhuma fase;

10 - Seja sempre humilde.

Peço desculpas aqui pelo meus desabafo...

Agradeço aos irmão de fé e caminhada.

Axé!

Leituras necessárias

 Olá irmãos de fé!



Passei alguns dias sem escrever mas não foi nem por mal. Estou tentando deixar tudo organizado e esquematizado para que, em outubro eu tenha a tranquilidade de me recolher sabendo que minha casa, meus filhos e minhas coisas estão em ordem.

Nesse interim tenho lido bastante também e feito algumas considerações acerca do que é escrito nos livros. Como já disse anteriormente, nada do que está nos livros substitui uma boa conversa com seus mais velhos, e sua vivência na sua roça de candomblé. Os livros devem servir somente como apoio ao seu conhecimento e, de toda forma deve-se sempre pedir orientação aos seus mais velhos.

Finalizei a leitura do livro O candomblé bem explicado, de Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã. Esse livro traz uma visão de entendimento bem simples àqueles que são iniciantes ou iniciados no candomblé. Explica sobre a iniciação, sobre os orixás e sobre as cerimônias que realizamos em nossos ilês. Uma trecho do livro que me chamou muito a atenção é aonde fala acerca das etapas da iniciação. Em determinada parte é dito sobre como algumas pessoas procuram pular as etapas do aprendizado de axé afim de beneficiarem.

Ebomys que ainda são iaôs e andam por aí a tirar filhos de santo indiscriminadamente, ebomys que se acham a nata do candomblé e desfazem dos iaôs e abiãns, ebomys que querem saber e ser mais que seu próprio sacerdote. Veja, eu ainda sou abiã e estou e sempre estarei em constante aprendizado dentro da religião, de nenhuma forma eu vou querer ser ou parecer mais que meus mais velhos! No meu pensamento isso é, além de desrespeito uma grande falta de vergonha na cara, desculpem o termo. 

Mas vamos ao que interessa que são as considerações sobre o livro.

Como é um livro sem linguagem rebuscada se torna de fácil entendimento até mesmo para pessoas que não são da religião. É uma leitura fluida e consistente que aborda todos os principais assuntos que devemos saber acerca do candomblé. Uma literatura que deveria ser recomendada à todas as pessoas com a finalidade de desmistificar a visão, muitas vezes incompleta e errada que têm do candomblé. É um livro inteiramente voltado a esclarecer as principais dúvidas que a pessoa pode ter a respeito da religião porém, deixando bem claro que ali é somente um apoio à fé.

Terminei também a leitura do livro Introdução ao Candomblé do babalorixá Cacioli de Ayrá. Esse também é um livro que deveria ser lido, principalmente por aqueles que pensam em se iniciar para o orixá por vaidade ou modismo. Também é de leitura fluida e fácil entendimento, sem termos rebuscados e palavras mirabolantes.

O que tirei desses dois livros em especial foi o que na verdade eu já possuía em meu coração: a certeza de que o amor ao orixá deve ser maior que tudo, pois eles é que nos guiam e nos ensinam o caminho a seguir. E se por algum motivo não seguimos aquele caminho não somos castigados mas, advertidos de que a escolha que tivemos ou teremos não será boa à nossa evolução.

Na próxima postagem tentarei explicar sobre como o orixá agem em nossas vidas.

Axé!!!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Vontade do orixá

 Olá irmãos de fé!



Hoje eu postei mais tarde porque o dia foi agitado.

Mais cedo fui ao mercadão de Madureira auxiliar um amigo a comprar as coisas que vai precisar para tomar um ebó. Como ele não está podendo carregar peso, fui mesmo para auxiliar ele a levar as coisas.

Quem mora no RJ sabe bem como o mercadão fica cheio com o passar das horas! Mas, tomamos aquela dose de coragem e fomos.

Chegando lá, começamos a comprar as coisas da lista pelas comidas secas. Farinhas, grãos, etc. Paramos em uma loja que ele gosta de comprar e eliminamos metade da lista. Depois disso fomos andar para comprar as outras coisas. E assim fomos, de loja em loja, vendo preços daqui e dali, vendo aonde ele se agradava mais em comprar as coisas.

Eu fui também com a intenção de comprar as coisas para fazer as lembrancinhas da minha saída. Já com absolutamente tudo esquematizado na cabeça para que saísse do jeito que EU queria.

Fomos comprando as coisas dele aos pouco e, de repente passamos num corredor do mercadão que dá acesso a uma loja para montagem de bijuterias enorme! Parei lá para comprar as missangas e a pedrinha para fechar as pulseiras.

Revirei a loja toda, olhando cada cantinho pra ver se achava umas firmas que vi há muito tempo, que eram redondas e pequenininhas, mas eram de louça. Não achei!

Daí me deparei com um saco de contas brancas acrílicas, um pouco maiores que as missangas e decidi então levar. Fiquei meio frustrada porque aquilo não era o que EU queria, não era aquela peça que eu queria colocar pra fechar a pulseira, não era daquela forma que eu queria que ficasse.

Levei a tal conta branca assim mesmo. Cheguei em casa e mostrei pro meu marido, que disse que ia ficar bom com aquela peça, mas eu estava tão desencantada que não via como a pulseira ficar bonita com aquela coisa.

Tomei meu banho, almocei e deitamos pra descansar. Quando acordei ainda brinquei com ele dizendo que iria fazer a terapia da pulseira, porque seria um dia de trabalho atípico aonde quase não teriam ligações.

Sentei pra começar o expediente e comecei a separar as missangas e as tais contas pra fazer a pulseira quando o "passarinho branco" sussurrou no meu ouvido: "Faz com sete!"

Eu olhei aquelas contas e as missangas e decidi fazer com intervalos de até missangas e uma conta, ficando então sete intervalos de sete missangas separados por sete contas brancas. Quando acabei de montar a primeira pulseira, fiquei um minuto em silêncio olhando...

Percebi que tinha ficado linda! E mais, percebi ali que não havia sido feita a minha vontade mas, A VONTADE DO ORIXÁ! Meu pai me mostrou mais uma vez que, na simplicidade também pode haver beleza escondida e que, não precisamos que as coisas sejam feitas com pompas mas sim, que as coisas sejam feitas com amor e dedicação.

As pulseiras estão ficando lindas! Confesso que estou até pensando em fazer para vender, mas isso é outra história. Só pra que vocês entendam e vejam que, quando seguimos a determinação do nosso orixá tudo fica mais belo e simples.

Gratidão pela inspiração paizinho! Exeu epa babá Osáàlá!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Estudando...

 Bom dia irmãos!



Hoje vou falar um pouquinho sobre meus estudos referentes às religiões de matriz africana, mais especificamente sobre o candomblé.

Ainda hoje o candomblé é visto por muitos como uma "seita", fato este inverídico pois, uma seita é formada por um pequeno grupo de pessoas, transgressoras às normas e regras de determinada religião e que, porém, se utilizam de elementos ritualísticos diversos no intuito de tentar criar uma nova religião.

Eu venho, há alguns bons anos, estudando e trabalhando para tentar desmistificar as ideias errôneas que as pessoas possuem sobre o candomblé e a umbanda, e sobre as religiões de matriz africana. Mostro às pessoas que, os elementos ritualísticos que elas destacam como sendo "coisa do diabo", "coisa ruim" e etc, tem sido utilizados milenarmente pelas mais diversas vertentes religiosas.

Recentemente tive o privilégio de poder ter em minhas mãos um livro que, há muito tempo eu queria ler. Esse livro se chama O candomblé bem explicado, foi publicado pela Pallas Editora e seus autores são Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã. Esse livro traz, de forma bem sucinta e leve a explicação sobre as origens históricas do candomblé, o porquê de certos preceitos, como lidamos com situações com o nascimento e a morte, enfim...

Traz até o leitor a visão necessária para derrubar por terra todo e qualquer preconceito sobre as nossas religiões.

Ainda estou lendo o livro em questão, porém, gostaria de compartilhar aqui uma parte que me chamou muito a atenção até agora, segue: 

   "Dedicar-se ao candomblé e aos orixás é uma prova de resignação, de humildade e de muito amor. É renunciar a muitos momentos de sua vida particular! [...] - p. 70"

"O que vemos, infelizmente, nos dias atuais são pessoas que se iniciam no candomblé e que não cumprem corretamente seu período de iaô. Em pouco tempo já se transformam em sacerdotes/sacerdotisas, sem terem percorrido um aprendizado correto e necessário de complementação. Muitos acham que agindo assim as divindades lhes darão riqueza e grandeza material. Vã ilusão! O orixá ajuda ao promover equilíbrio, dinamismo, paz interior e fortalecimento para a nossa matéria. - p 76"

Essas passagens me chamaram a atenção porque, é exatamente dessa forma que eu enxergo o candomblé. 

A fé nos orixás é o que move o meu viver, é o que me faz ter esperança em dias melhores, é o que me faz ter a certeza de que sempre somos cuidados e amados... o que me faz ter a certeza de que não estamos e nem nunca estivemos sozinhos.

Eu fico muito entristecida quando vejo situações que denigrem a imagem da nossa religião. Quando vejo iaôs desfazendo de sua casa de axé. Quando vejo pessoas recém iniciadas querendo passar às frente da anos de conhecimento e aprendizado dos mais velhos.

Eu tenho a humildade de abaixar a cabeça para os meus mais velhos, de levar minhas dúvidas a eles e, de recuar se ouvir que ainda não é o tempo de ter esse ou aquele aprendizado.

Eu leio muito, e amo ler! Ler não me dá só conhecimento, me dá poder. O poder de questionar, o poder de construir conclusões e pensamentos mais corretos e interligados, o poder de aprender novos conhecimentos. Porém, isso não me exime de perguntar aos meus mais velhos! Eles tem anos de conhecimento e experiência à minha frente e, qualquer coisa que eu leia em um livro não posso, jamais, levar como conhecimento absoluto subjugando assim o saber ancestral.

Acredito que esse livro devesse ser receitado a todos os abians e iaôs, com a recomendação de que leiam e anotem suas suas dúvidas para que, depois possam esclarecer junto aos seus babás e yás. E acredito também que todos os babás e yás devessem ler esse livro, não só pela fonte de conhecimento, mas também para que possam entender que, o conhecimento precisa ser repassado para ser perpetuado, os novos precisam aprender que "o certo é o que se faz no seu Ilê axé, o que é feito fora dele só é diferente!". E com esses aprendizados e trocas de saberes a nossa religião se perpetua e se torna um lugar de respeito, acolhimento, amor e valorização do ser humano.

Essa foi a postagem de hoje, seguirei lendo o livro e amanhã tem mais!

Axé!


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

As comidas dos orixás

 Olá meu irmãos de fé!



Hoje decidi falar um pouquinho sobre as comidas dos orixás. Muita gente acha que é só você preparar uma comida qualquer por exemplo, e colocar para o seu orixá. Só que não é bem assim!

O processo de se fazer uma comida para orixá envolve fatores que são essenciais ao bom andamento de toda situação. Uma comida para orixá precisa, ser preparada corretamente, conter os elementos gastronômicos corretos, e ser entregue ao orixá também da forma correta.

Uso como exemplo aqui nesse meu texto a comida do meu Pai Oxalá, o ebô. O ebo para muitos, é somente uma canjica. Porém o ebo é muito mais que isso! O ebo é a comida preferida de Oxalá.

O primeiro ponto para se preparar o ebo é deixar a canjica de molho de um dia para o outro, depois ela deve ser cozida de forma que fique macia mas não é mole demais. Depois de cozida a canjica deve ser colocada em uma tigela de louça, e coberta com algodão. A água da canjica, do cozimento, também não é desperdiçado ela é utilizada como banho para os filhos da casa. O banho da água de canjica acalma, e traz tranquilidade ao corpo e a mente de quem o toma.

Perceba que até um simples ebo precisa ser preparado com cuidado, carinho, e delicadeza respeitando todo o procedimento de preparação da comida para o sagrado.

Numa casa de Santo quem cuida da cozinha é chamada de yabassé. a yabassé tem a função de preparar todas as comidas que serão ofertadas aos orixás e, muitas das vezes também tem a responsabilidade de preparar as comidas que serão oferecidas a comunidade.

Ser uma yabassé não é um cargo, é um posto dado pelo babalorixá ou pela ialorixá da casa de santo a uma pessoa que teve treinamento, de certa forma, para realizar aquela função. a yabassé além de ser responsável pela confecção do ajeum do orixá também precisa saber exatamente como aquela comida deve ser arriada. Para isso a yabassé aprendi, por muitos anos com o babalorixá ou yalorixá da casa, a como preparar cada tipo de comida e como arriar aos pés do orixá.

Por isso a importância de se aprender a cada dia! não pense que só porque você é um yawô que você não pode aprender as coisas, ao contrário você deve aprender! O yawôs hoje são o futuro da roça, eles é que futuramente irão assumir os outros postos da casa. Então se você é um yawô ou se você é um abian como eu, procure aprender todas as coisas que são feitas na sua casa de Santo desde a comida até a limpeza da casa. E nunca, nunca tenha vergonha de perguntar alguma coisa aos seus mais velhos!

Um abraço de luz e muito asé!



segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Sonhos

 Bom dia meus irmãos de fé!



Gente, eu acordei agora e precisava escrever.

Eu tive um sonho tão, mas tão esquisito que preciso registrar pra não esquecer.

Sonhei que eu estava a caminho da minha casa de santo porque meu pai havia me ligado avisando pra eu ir que ele iria me recolher naquele dia.

Eu arrumei minha bolsa com minhas roupas, chamei um carro e fui. Cheguei lá e troquei minha roupa...

Um flash e eu estava no runkó junto com outras pessoas! Alguns eram conhecidos e outros não. De um lado estavam pessoas que só iriam fazer um ebó, e do outro havia eu e mais alguns obrigacionados.

Éramos somente quatro, sendo três yawos e um ebomi. Lembro perfeitamente do cheiro que tinha no runkó... era um cheiro doce e bem suave, algo lembrando rosas brancas ou jasmim.

Novo flash, e de repente eu me lembrava que havia esquecido todo o material e todo o dinheiro para a obrigação na minha casa. Eu peço licença aos irmãos e de repente saio correndo, vestida de branco e com penas na cabeça.

Pego uma moto e, de repente estou em casa! Não tem ninguém em casa e então, começo a procurar meu cartão do banco e os materiais da obrigação. De repente meu marido chega e pergunta quem era o homem que estava sentado em frente às porta.

Eu disse que estava sozinha e ele disse que não, que havia um homem negro sentado na porta dizendo que estava me esperando. Novamente eu disse que não... E então ele abriu a porta e, de fato havia um homem sentado na porta!

Ele era bem negro, forte, e seus olhos eram amarelos cor de ouro e brilhavam muito. Ele disse que, já que eu havia fugido que ele tinha vindo no meu encalço pra garantir que eu voltasse e cumprisse minha missão.

Eu fiquei assustada! Outro flash...

Já estava no runkó e agora já não tinha mais ninguém comigo. De repente meu pai entra e, logo atrás vem Odé e Osún com cara de poucos amigos. Me repreendem por eu haver fugido e, mesmo eu explicando que havia sido pra pegar o que havia esquecido dizem que eu sou rebelde e que, por garantia mandaram Esu me vigiar de perto.

Outro flash e me vi sentada, novamente com as penas na cabeça e de olhos fechados, e ao meu lado Osáàlá todo de branco com um igbi enorme em suas costas.

Acordei!

Desculpem o longo relato, mas eu precisava escrever pra não esquecer.

Gratidão a todos que tem visitado meu cantinho, que se sintam acolhidos e amados!

Asé o!

sábado, 9 de janeiro de 2021

Um pouco sobre candomblé

 Bom dia meus irmãos!



Não vou negar a vocês que, essa proposta de escrever um artigo a cada dia está me fazendo muito bem!

Aqui é um lugar de fala para todos os praticantes, adeptos e simpatizantes às religiões afro. Minha ideia é, levar um pouquinho de conhecimento para aqueles que estão iniciando, assim como eu e, também, desmistificar a história de que nossas religiões são coisas do mal.

Hoje eu vou falar um pouquinho sobre o candomblé. Essa é a religião aonde eu me encontrei e que pretendo seguir pelo restante da minha vida!

O candomblé é uma religião brasileira de matriz africana, advinda da aglutinação de cultos ancestrais africanos, trazida ao Brasil dentro dos navios negreiros pelos escravos.

O que conhecemos hoje com candomblé é uma miscigenação dos cultos ancestrais africanos, que foi criada no Brasil com o intuito de perpetuar o culto aos ancestrais negros, como uma forma de conforto e fonte de esperança para os negros que vinham para cá arrancados de sua pátria natal.

Em África o orixá é como alguém da família, ele é vivo e faz parte tanto da vida diária quanto da tomada das mais diversas decisões. Lá, cada cidade cultua seu ancestral. Por exemplo, em Osogbo é cultuada a orixá Osún, que é um rio. Em Ire é cultuado Ogun, deus do ferro, do cultivo, da tecnologia. E assim em tantas outras cidades, o culto ao orixá é feito pelas suas famílias de forma separada e muito específica.

Aqui, devido à impossibilidade de se fazer dessa forma, devido também à necessidade sincrética dos deuses africanos para com os santos da igreja católica, devido ao fato de não se haverem templos para o culto, os escravos precisaram aglutinar diversos orixás e, muitos desses deuses não conseguiram atravessar o mar, ficando seu culto restrito somente às África.

Um exemplo disso é o culto a Olokun, divindade que habita o fundo dos oceanos, criador das marés, das criaturas abissais, criador do mar. Olokun é tido como pai de Yemonja. Seu culto não veio para o Brasil e, assim como ele, tantos outros Orixás ficaram na África.

Então, o que conhecemos como candomblé é, nada mais que a adaptação do culto ancestral a solo brasileiro. E por isso tenho a opinião de que, nenhum culto ou nação é melhor que o outro. Todos estão em pé de igualdade e devem caminhar de mãos dadas, cada um respeitando a individualidade e fundamento do outro.

É isso por hoje!

Mais pra frente vou trazer uma visão mais histórica do candomblé no Brasil e espero que vocês gostem!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Falando um pouco sobre o meu orixá

 Bom dia, boa tarde e boa noite queridos irmãos.



Na postagem de hoje eu decidi falar um pouco sobre o meu primeiro orixá, aquele que rege minha vida, meu caminho e que é o responsável por eu estar viva.

Sou filha de Oxalá, o rei de Ejigbô. Oxalá é, por bem dizer, o maior e mais respeitado orixá do panteão yorubá. Diz-se que é o orixá responsável, junto com Nanã, por criar os seres humanos.

Oxalá se apresenta em duas formas distintas e que, aproveito para esclarecer, não tem nada a ver com ser a forma jovem e a forma idosa.

Osàálufón (meu pai!) é um senhor venerável, sábio e algumas vezes intransigente e ranzinza. Ele e sua esposa Nanà Buruku são, de acordo com as lendas yorubás, os responsáveis pela criação dos humanos. Nanà Buruku fornece o barro, Osàálufon molda os seres humanos e Olorum lhes fornece o emí (sopro vital ou alma).

Reza a lenda que, o motivo de alguns seres humanos virem ao mundo com deformidades se deve ao fato de que, Osáàlá por ser proibido de beber o vinho de palma (por conta de ter se embriagado e ter deixado de lado a cabaça com terra para a criação do mundo, ficando está tarefa a cargo de Oduduwa), quando foge à essa regra acaba moldando os seres humanos com as mais diversas anomalias.

Diz-se também em um ditado yorubá que: Quando Osáàlá pensa já e está criado e, quando esquece já deixou de existir. Isso nos diz que, embora seja um orixá criador de vida, também é o detentor da morte.

Seus filhos normalmente tem um temperamento benevolente, sempre dispostos a ajudar o próximo e, por vezes mais preocupados com os outros que consigo mesmos. Não são dados a extravagância, não gostam de holofotes, mas gostam de ser reconhecidos por seu caráter e atitudes.

Quando estão de mau humor são pessoas intragáveis! São ranzinzas e podem ser extremamente grosseiros até mesmo com pessoas queridas. Costumam ter muita paciência porém, são avessos a abusos dessa característica.

São pessoas que tem o dom de ouvir e falar! Costumam ser bons oradores e ter habilidade para a execução das mais diversas tarefas. Possuem um raciocínio calculista e as vezes muito frio, sempre dispostos a fazer o outro colocar os pés no chão.

Osáàlá é ar! Ele se mostra até na mais suave brisa de verão.

Eu poderia passar horas aqui falando sobre meu pai, aquele que é o senhor dos meus dias e da minha vida inteira... mas vou deixar aqui pra vocês o itan que fala sobre a ligação de Esù e Osáàlá.

Um dia Oxalufam, que vivia com seu filho Oxaguiam, velho e curvado por sua idade avançada, resolveu viajar a Oyo em visita a Xangô, seu outro filho. Foi consultar um babalaô para saber acerca da viagem. O adivinho recomendou-lhe não seguir viagem. Ela seria desastrosa e acabaria mal. Mesmo assim, Oxalufam, por teimosia, resolveu não renunciar à sua decisão. O adivinho aconselhou-o, então, a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa ou sabão-da-costa, assim como a aceitar e fazer tudo que lhe pedissem no caminho e não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma forma de não perder a vida.

Em sua caminhada, Oxalufam encontrou Exu três vezes. Três vezes Exu solicitou ajuda ao velho rei para carregar seu fardo, que acabava derrubando em cima de Oxalufam. Três vezes Oxalufam ajudou Exu, carregando seus fardos imundos. E, por três vezes, Exu fez Oxalufam sujar-se de sal, azeite de dendê e carvão. Três vezes suportou calado as armadilhas de Exu. Três vezes foi Oxalufam ao rio mais próximo lavar-se e trocar suas vestes. Finalmente chegou a Oió. Na entrada da cidade, viu um cavalo perdido, que ele reconheceu como o cavalo que havia presenteado a Xangô.

Tentou amansar o animal para amarrá-lo e devolvê-lo ao filho. Mas, neste momento, chegaram alguns súditos do rei à procura do animal perdido. Viram Oxalufam com o cavalo e pensaram tratar-se do ladrão do animal. Maltrataram-no e prenderam-no. Ele, sempre calado, deixou-se levar prisioneiro.

Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do Senhor da Justiça, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o reino. Xangô, desesperado, procurou um babalaô, que consultou Ifá, descobrindo que um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera.

Xangô correu para a prisão. Para seu espanto, o velho prisioneiro era seu pai Oxalufam. Xangô ordenou que trouxessem água do rio para lavar o rei. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco, e que todos permanecessem em silêncio, pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufam. Xangô vestiu-se também de branco e encarregou Airá de carregar o velho rei nas costas. Levou-o para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava Oxalá e Xangô. Depois Oxalufam voltou para casa levado por Airá e, quando chegou seu filho, Oxaguiam ofereceu um grande banquete em celebração pelo retorno do pai.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Mais um dia de aprendizado

 Bom dia meus queridos irmãos.



Seguimos em mais um dia de aprendizado. Ontem, por conta de algumas questões pessoais acabei não postando nada, e fiquei pensando no que escrever.

Não quero ser chata nem inconveniente, postando aqui coisas desinteressantes. Quero fazer do meu humilde diário um lugar de fala para os abiãns que, assim como eu, por vezes sentem-se deslocados, com medo e inseguros dentro da sua casa de axé.

Eu sempre gostei muito de ler e sempre fui, e sou até hoje, muito curiosa. Aprender sobre umbanda e candomblé pra mim foi e é um processo muito natural. Eu procuro bons escritores, compro alguns livros e, há alguns meses participo de um grupo de estudos aonde discutimos sobre orixá, vodun, inquice, ifá e todas as vertentes religiosas de matriz africana.

Então, decidi trazer aqui pra vocês alguns livros que eu leio e estudo e que são excelentes agregadores de conhecimento para nós que estamos iniciando a jornada para e pelo sagrado.

Lembrando sempre que: É muito importante irmos perdendo o medo e a vergonha de PERGUNTAR aos nossos mais velhos! Ler e estudar é ótimo mas, perpetuar o conhecimento oral também é necessário.

Então vamos lá!

Vou listar os livros que tenho e já li, explicando rapidinho o motivo de serem bons. Lembrando que alguns tem um valor bem acessível e fornecem uma ótima base de conhecimento. Mais uma lembrança é de que, devemos sempre ler e interpretar o texto para que possamos tirar nossas próprias conclusões de forma concisa, objetiva e pratica.

Guia prático da língua Yorubá - Fernandez Portugal Filho (esse livro é excelente pra aprendermos um pouco sobre a gramática e construção de frases em yorubá)

Os orixás na umbanda e no candomblé - Diamantino Fernandes Trindade, Ronaldo Antônio Linares e Wagner Veneziani Costa (traça um paralelo entre os dois cultos e explica de forma sucinta a diferença entre ambos)

Comida de santo - Maria Helena Farelli e Nilza Paes da Silva (ensina de forma bem simples a preparar as principais comidas oferecidas aos orixás)

Lendas Africanas dos Orixás - Pierre Fatumbi Verger (principais itans dos orixás)

Vocabulário Yorubá - Eduardo Napoleão (dicionário prático da língua Yorubá, com as principais formações frasais)

Candomblé bem explicado - Odé Kileuy (explicações mais aprofundadas sobre as nações Bantu, Yorubá e Fon)

Tenho ainda muitos outros mas, acredito que esses são os primeiros que servem de base para nós, iniciantes, a esclarecer boa parte das dúvidas e começarmos a desenvolver o hábito de busca, perguntando aos nossos mais velhos os pontos de dúvida.

Ah! E não é vergonha fazer um caderno de anotações viu? Escreva, anote suas conclusões e opiniões, anote as respostas dos mais velhos. É sempre bom perpetuar o conhecimento adquirido de alguma forma!

Amanhã vou postar alguns outros livros que tenho e que também são uma excelente fonte de conhecimento.

Espero contribuir na caminhada dos novos assim como eu tenho recebido contribuições à minha. Que vocês saibam que não estão sozinhos!

Beijos de luz e axé!

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Como tudo começou...

 Bom dia.



Me chamo Ana Luiza, tenho 32 anos, sou casada há 13 anos e mãe de duas crianças maravilhosas.

Sou nascida em família predominantemente católica, porém desde muito nova tive contato com as religiões de matriz africana.

Fui batizada na igreja católica, fiz minha primeira comunhão e, posteriormente fui crismada também. Fui catequista e atuante nas atividades da igreja durante muito tempo, mas sempre sentia que faltava algo que me completasse.

Meu pai era frequentador e iniciado tanto na umbanda quanto no candomblé, tendo optado posteriormente por seguir a umbanda. Filho de Ogum e Xangô, meu pai era um homem de poucas palavras, mas muito preciso. Não mostrava muito seus sentimentos e tinha um coração maior que tudo.

Desde nova via as entidades do meu pai trabalhando. O preto velho, o Exu, o erê... Tinha um enorme respeito por todos e ficava fascinada a cada incorporação, a cada ensinamento. No popular, eu cambonava as entidades do meu pai e, a cada vez recebia um ensinamento diferente.

Ali eu me sentia completa, feliz, inteira! Além disso meu pai também estudava muito a doutrina kardecista. Foi através dos livros dele que entendi que a alma é eterna, que nossa passagem na terra é um aprendizado e que estamos aqui para aprendermos a ser melhores e resgatar as nossas faltas.

Continuava com as minhas atividades na igreja e, mesmo sendo muito grata à todo esse aprendizado, ainda sentia um pedaço de mim faltando. Minha mãe e minha avó nunca foram a favor de que eu aprendesse ou entrasse para a "macumba" como elas diziam. Mas hoje consigo entender que ainda não era o tempo!

Fui crescendo e a fome por conhecimento e por me sentir completa só aumentava. Comecei a ler e estudar cada vez mais sobre a cultura ancestral. Naquela época não se tinha a facilidade da internet como hoje! Ou você lia livros e procurava seus mais velhos, ou morria a míngua.

Então eu lia os livros espíritas do meu pai e, sempre que podia, ia numa biblioteca e caçava livros sobre candomblé e umbanda. Aprender sobre essas relações, sobre essa cultura, me fazia feliz e completa... E também me fazia, de certa forma, entender minha missão aqui.

Quando comecei a trabalhar fora o aprendizado ficou mais fácil. Tendo mais acesso às feiras livres no centro do Rio, comprar livros e ampliar meus conhecimentos era fácil porque, agora eu tinha o meu dinheiro e não precisava pedir aos meus pais.

Frequentar terreiros ainda era um imenso problema porque minha mãe, em nenhuma hipótese permitia ou aceitava. Mas então, com 14 para 15 anos eu conheci meu esposo!

Tive muitos problemas com a família dele, enfrentei muitas coisas e, juntos, passamos por muitos momentos, tanto bons quanto ruins. Foi então que, após uma fase bem complicada na minha vida, em uma das idas à casa das minhas cunhadas, conheci um senhor maravilhoso... Meu eterno pai Maurício (in memoriam)!

Numa roça de candomblé, chão de cimento, simples, mas com muita energia! Foi com ele o meu primeiro jogo de búzio, a confecção dos meus primeiros fios de conta, o primeiro bori, e a certeza infinita de que tinha achado meu lugar. Oxalá se apresentou, e depois Oya e Osún... Com ele fui entendendo o que é ancestralidade, aprendendo o que é hierarquia e respeito.

Passei por mais bocados. Minha mãe não aceitava! Não queria ver a filha envolvida com "macumba" não. Ia atrás de mim sempre que eu ia para a casa das minhas cunhadas (que muitas vezes me encobriam para não me prejudicar), ligava para Deus e o mundo só pra ter certeza que eu não estava no centro! 

Aquilo tudo me deixava muito triste, e me fazia continuar frequentando a igreja para não desagradar a ela. E durante treze anos da minha vida foi assim... Idas e vindas nas atividades da igreja, estudo constante das religiões de matriz africana, ida a terreiros (de forma escusa para que ela não soubesse), e a nutrição constante do meu amor pelos meus orixás.

Hoje, com 32 anos, um novo momento se desdobra. Esse é o ano da minha iniciação, o ano aonde minha trajetória para o sagrado se inicia, o ano aonde o meu coração se completa e se enche de felicidade por estar indo de encontro ao que eu realmente creio!

E nesse ano pretendo compartilhar aqui cada momento da minha caminhada até o dia da minha iniciação.

Muito obrigada a todos que estão participando dessa trajetória, só gratidão pelo amor e incentivo que vocês me dão! Gratidão especial à minha casa, o Ilê Asé Omin Lokun Kolayó e ao meu pai, Renato ti Yemonja que me acolheu e cuida de mim com tanto amor.

Gratidão também ao meu irmão George Wallace e à minha querida irmã Ana Braga por toda a troca de conhecimento, por toda a força e por estarem comigo nesse momento tão especial.

Muitos textos ainda virão! Espero que vocês gostem e acompanhem meu caminho daqui pra frente!

Omoloko

 Bom dia, boa tarde, boa noite irmãos de fé! Hoje vou falar um pouco sobre essa nação tão bonita e que, há pouco tempo venho conhecendo: a n...